Artista ficou conhecido pela arte do teatro de bonecos com muita molecagem cearense.

Um dia de pesar para as artes cearenses. Depois do anúncio da morte da bailarina Janne Ruth, o humorista pernambucano Augusto César Barreto de Oliveira faleceu nesta terça-feira (4), em Fortaleza. Augusto Bonequeiro já havia sido diagnosticado com Alzheimer e Parkinson, e morava em uma casa de repouso na Capital, onde era acompanhado por família e amigos. Recentemente, o artista havia sido hospitalizado. A causa da morte ainda não foi confirmada.

O artista foi recentemente reconhecido com o título de Mestre da Cultura do Ceará pelo trabalho de construção e manuseio de bonecos, tendo sido nome central desta vertente do teatro no Estado e no País.

No Ceará desde 1980, o artista encontrou a profissão em que se destacaria na sala de aula.

"Eu descobri o boneco de uma forma muito interessante. Eu era professor de educação artística em escola particular em Recife. Escola particular você sabe como é que é, tem tudo: sala, ambiente, palco, teatro. Depois eu fui ser professor de educação artística em escola pública. Aí escola pública não tem isso, não tem aquilo, falta aquilo outro. Eu me vi naquela circunstância, 'não tem como trabalhar o teatro na educação artística', aí eu me lembrei do teatro e boneco", relembrou o começo em uma entrevista para a TV Brasil.

Diretor do Theatro José de Alencar entre 1986 e 1987, Augusto construiu uma carreira nos palcos e na televisão. Destaque para o programa Bodega do Encrenca, que ficou no ar por 20 anos na TV Jangadeiro (CE), além do programa "A hora do Chibata", na TV Tambaú, em João Pessoa (PB), exibido por mais de 15 anos, conforme informações do Mapa Cultural. 

Ao Verso, o humorista, pesquisador e diretor do Museu do Humor Cearense Jader Soares ressalta o "legado inspirador" de Augusto "não só no mundo do teatro de boneco, como também na questão do humor".

"Ele contribuiu de forma magistral para o engrandecimento do nosso humor, agindo numa linha específica de humor com bonecos, tanto educativo, onde ele fazia (apresentações) nas escolas sobre os mais variados temas — dengue, IST, aids e por aí vai —, como também nos shows noturnos, onde ele trabalhava com o boneco Fuleiragem", afirma.

O célebre bonequeiro foi homenageado no ano passado pelo Museu do Humor Cearense, que inaugurou uma sala dedicada a Augusto. "A gente instalou essa sala no dia 2 de abril de 2024, ocasião em que o museu estava fazendo 10 anos e justamente no dia do aniversário do Augusto. A inauguração deu-se com a presença dele", ressalta Jader.

Além da importância coletiva, o humorista Bené Barbosa, conhecido pelo personagem Papudim, destaca a generosidade do mestre com os pares. "Ele tem uma importância muito grande na minha vida, porque foi o cara que me deu oportunidade na televisão", reconhece.

"O Augusto era acima de tudo um ser humano maravilhoso, um artista sem igual, e seu maior talento era dar oportunidade para as pessoas. Eu fiz programa de rádio com ele, fiz televisão, fiz filme, fiz projetos como o Terça de Graça. É uma perda considerável para a cultura do estado do Ceará", lamenta.

Também bonequeiro, Omar Rocha destaca o pioneirismo do colega e amigo. "Com sua coragem, determinação e talento, Augusto foi a maior referência para os brincantes de teatro de bonecos no Ceará. Ele era aquele que, entre nós, sempre seguia na frente", afirma.

"Continuaremos reverenciando esse grande mestre e cuidando para manter viva a sua memória e o seu vasto legado para o teatro de bonecos do Brasil", avança.

Ator, diretor e produtor teatral, Cláudio Magalhães partilha ao Verso o adeus ao mestre, feito em tom poético. "Por enquanto vá amigo, vá descansar na paz e na luz das estrelas que, igual a você, nunca vai se apagar", escreve.

"Nós que vamos ficar sem suas graças nesse lugar, choramos sua partida, mas sabemos, a despedida é um até logo volto já, vou só ali, bem acolá, brincar, frescar e um forró com a boneca dançar"

Cláudio Magalhães - ator, diretor e produtor

Já a secretária da Cultura do Ceará Luisa Cela define Augusto como um "grande artista" que deixa marcas no Ceará e no Nordeste. "Ele vai deixar muita saudade porque era uma figura muito amorosa, gentil, solidária. Tinha um trabalho incrível nessa área de formação, fazia a transmissão do seu saber, tanto da construção dos bonecos como do manuseio", aponta.

A gestora lembra, ainda, da importância do artista ter sido reconhecido como Mestre da Cultura pelo Estado. "Para nós, é muito importante que ele tenha tido ainda em vida esse reconhecimento pelo trabalho na tradição, na cena e na cultura nordestina e do nosso estado".

A atuação do bonequeiro além dos palcos também é ressaltada por Luisa, que cita o período em que ele passou na direção do TJA e a articulação em associações nacionais. "Ele tem um legado também importante nessa área da gestão e da luta por essa área do teatro de bonecos", acrescenta.

A importância do artista é reforçada por Vanéssia Gomes, pesquisadora e diretora do Teatro Carlos Câmara. "Augusto Bonequeiro atravessou o tempo com uma arte da cultura popular que é de extrema significância e aproximação com o povo. É um legado importantíssimo que foi deixado para nós, que reverbera e vai reverberar", atesta a gestora.

Nas redes sociais, a Associação Brasileira de Teatro de Bonecos prestou condolências ao mestre, destacando "um legado imensurável e uma vida inteira dedicada à arte do teatro de bonecos em nosso país".

"Sua trajetória inspira gerações de brincantes, artistas e educadores, pela paixão, sabedoria e compromisso com a cultura popular. Tivemos a honra de conhecê-lo e de aprender com ele — momentos de aprendizado e afeto que ficarão eternizados na memória e no coração de todos que partilharam de sua caminhada", diz o cearense Andreisson Quintela, atual presidente da entidade.

🗒️ Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

✍️ Por João Gabriel Tréz e Lorena Cardoso | Diário do Nordeste

🌐 www.passarefm.net

📸 Imagem/Reprodução