De janeiro a junho deste ano, o Brasil importou 240 milhões de toneladas da Argentina, Uruguai e até da Nova Zelândia. O Ceará tem uma grande e moderna fábrica deleite em pó, da Alvoar

De janeiro até junho, ou seja, nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil importou da Argentina e do Uruguai – com autorização do Governo Federal – 240 milhões de toneladas de leite em pó, o equivalente a quase 10% da produção brasileira. É um tiro no coração dos pecuaristas nacionais – os nordestinos no meio. 

Essa importação prossegue, tendo fracassado todo o esforço da liderança da pecuária nacional na tentativa de barrar a farra do leite importado. Nos quatro anos do governo anterior, foram importadas menos de 70 milhões de toneladas de leite em pó. 

Pergunta que repetem os pecuaristas cearenses: afinal, devemos proteger os produtores de leite da Argentina e do Uruguai ou os do Brasil?

O Ceará tem dado bom exemplo: a produção estadual de leite aumentou, mas a Betânia Lácteos, hoje Alvoar, para garantir a compra de toda a matéria-prima dos produtores cearenses, instalou, em sua planta industrial de Morada Nova, uma unidade de leite em pó, que, desde meados do ano passado, quando foi inaugurada, opera com 100% de sua capacidade de produção.

Boa parte dessa produção da Alvoar de Morada Nova destina-se, como ingrediente, às indústrias que produzem biscoitos, sorvetes, capuccino e chocolate. Pois é esse mercado que os produtores locais podem perder, se prosseguir a importação do leite em pó argentino, uruguaio e até neozelandês.

Uma fonte desta coluna informou que a 3 Corações, com sede em Fortaleza e maior empresa brasileira da área de café torrado e moído, está importando leite em pó para a produção do seu apreciado capuccino.

“Por que a 3 Corações não compra o leite em pó produzido no Ceará pela Betânia”? – indaga um grande pecuarista cearense.

O presidente da Federação da Agricultura do Ceará, Amílcar Silveira, disse ontem, em uma rede social, que está tentando convencer os diretores da 3 Corações a consumirem o leite em pó produzido em Morada Nova. Para ele, “a importação de leite em pó é cruel demais para a pecuária brasileira”.

Amílcar postou um áudio, no qual declara que “temos de resguardar o mercado interno e, se depender de nós da Faec, vamos pedir para o governo taxar o leite que vem de fora do país”.

Um laticinista de médio porte, no mesmo grupo social, escreveu que acha “difícil que a indústria de ingredientes venha a favorecer o leite em pó produzido no Brasil, e aí só o governo interferindo, com subsídio”, algo que tem a oposição do presidente da Faec: 

“Subsidiar o produtor não é o caminho. Priorizar os produtores e a indústria cearense de lacticínios é a nossa prioridade e deve ser a de toda a pecuária do Ceará”, escreveu Amílcar Silveira. 


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Egídio Serpa

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto: Reprodução